Todos eles provêm de contextos variados. São artistas, guias turísticos e funcionários de museus. Trabalham com património artístico, arqueológico e natural, e com almas ávidas e entusiastas. Utilizam técnicas experimentais dialógicas e unidirecionais para interpretar o património que têm à sua guarda. Os nossos colegas vieram para falar, partilhar e inspirar-se mutuamente, em conversas estruturadas em torno de seis questões prementes. Mas essas questões, embora decisivas para suscitar a conversa, não foram o que a animou. Foram as atitudes em relação à interpretação do património e à mediação museológica. Ao ouvi-los, foi possível encontrar dois atributos fundamentais em todos os presentes nesse dia: o empenho inabalável na preservação e valorização respeitosa do património à sua guarda e o desejo socialmente empenhado de servir as necessidades das pessoas que vêm ao encontro desse património. Ao ouvi-los, descobrimos também a rica diversidade com que dão forma a estes princípios.
Encontrámos jardineiros, aqueles que veem em cada objeto o potencial para o florescimento de histórias e que veem em cada pessoa o poder de expandir a sua visão do mundo, aqueles que plantam sementes mesmo quando não as veem florescer.
Encontrámos apanhadores de borboletas, aqueles que veem perspectivas múltiplas e possibilidades infinitas, que esvoaçam naquele espaço estranho entre o olho do observador e o objeto de contemplação, aqueles que vêm com as suas redes prontas e preparadas, e nos mostram que é possível apanhar estas lascas errantes de compreensão para todos os nossos prazeres.
Encontrámos pescadores, aqueles que se aventuram com as águas em movimento, tentando apanhar essas coisas rápidas e ágeis, furiosamente animadas: a atenção dos visitantes, os segredos dos objetos.
É para pessoas nesta gama extraordinária que o projeto TEHIC está a conceber um currículo. É para nós e para aqueles que são como nós. Um currículo que reconhece que diferentes atitudes e atributos farão uso de diferentes estratégias e ferramentas. Todos nós, até certo ponto, encontrámos as nossas vozes como mediadores, intérpretes e contadores de histórias. Mas faltava-nos aquele lugar maravilhoso de experimentação lúdica que se encontra frequentemente na educação. Um currículo capaz de partilhar múltiplas competências com os seus alunos e incentivá-los a brincar, a experimentar, a ir corajosamente aonde quer que estes instrumentos os levem, pode fundamentalmente remodelar a diversidade no nosso sector. Os estudantes que testarem estes métodos e ferramentas sem as pressões da sustentabilidade financeira ou o compromisso com agendas políticas, aprenderão a utilizá-los em toda a sua gama de possibilidades. Experimentarão alegremente novos arranjos e composições a partir de perspetivas diversas e por vezes “incompatíveis”, enriquecendo as nossas comunidades com novas e maravilhosas formas de envolvimento. Capazes de roubar da boca da pequena Alice de Lewis Carrol aquelas palavras irresistíveis: “Curiouser and curiouser!”.
(Texto escrito por Ivo Oosterbeek por ocasião da Conferência Mediação Museológica e Interpretação do Património – Abril/2024, e produzido no âmbito do projeto TEHIC: https://tehic.eu/)
Legenda da fotografia: Caixa Entomológica da colecção de insectos do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (CM-Caixa 160), (Museu Nacional de História Natural e da Ciência – Portugal).