No passado dia 5 de abril, o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, acolheu a Conferência TEHIC sobre Mediação Museológica e Interpretação do Património, um encontro que reuniu mais de uma centena de intérpretes do património.
Todos eles provieram de contextos variados. São artistas, guias turísticos e funcionários de museus. Trabalham com património artístico, arqueológico e natural, e são almas ávidas e entusiastas. Utilizam técnicas experimentais dialógicas e unidirecionais para interpretar o património que têm à sua guarda. Estes nossos colegas vieram falar, partilhar e inspirar-se mutuamente, em conversas que se estruturaram em torno de seis questões prementes. Contudo, essas questões, embora decisivas para suscitar a conversa, não foram o epicentro da animação. Foram as atitudes face à interpretação do património e à mediação museológica. Ao ouvi-los, foi possível encontrar dois atributos fundamentais em todos os presentes nesse dia: o empenho inabalável na preservação e valorização respeitosa do património à sua guarda e o desejo socialmente empenhado de servir as necessidades das pessoas que vêm ao encontro desse património. Ao ouvi-los, constatámos também a rica diversidade com que dão forma a estes princípios.
Encontrámos jardineiros, aqueles que vêem em cada objeto o potencial para as histórias florescerem e que vêem em cada pessoa o poder de expandir a sua visão do mundo, aqueles que plantam sementes mesmo quando não as vêem florescer.
Encontrámos caçadores de borboletas, aqueles que vêem múltiplas perspetivas, possibilidades infinitas, esvoaçando nessa extensão estranha entre o olho do observador e o objeto de contemplação, aqueles que vêm com as suas redes prontas e preparadas, e nos mostram que é possível apanhar estas lascas errantes de compreensão para todos os nossos prazeres.
Encontrámos pescadores, aqueles que se aventuram com as águas em movimento, tentando apanhar essas coisas rápidas e ágeis, furiosamente animadas: a atenção dos visitantes, os segredos dos objetos.
É para pessoas nesta extraordinária gama que o projeto TEHIC está a conceber um currículo. É para nós e para aqueles que são como nós. Um currículo que reconhece que diferentes atitudes e atributos farão uso de diferentes estratégias e ferramentas. Todos nós, até certo ponto, encontrámos as nossas vozes como mediadores, intérpretes e contadores de histórias. Mas faltava-nos aquele lugar maravilhoso de experimentação lúdica que se encontra frequentemente na educação. Um currículo capaz de partilhar múltiplas competências com os seus alunos e incentivá-los a brincar, a experimentar, a ir corajosamente até onde estes instrumentos os levarem, pode fundamentalmente remodelar a diversidade no nosso sector.
Os estudantes que testam estes métodos e ferramentas sem as pressões da sustentabilidade financeira, ou o compromisso com agendas políticas, aprenderão a usá-los em toda a sua gama de possibilidades. Experimentarão alegremente novos arranjos e composições a partir de perspectivas diversas e por vezes “incompatíveis”, enriquecendo as nossas comunidades com novas e maravilhosas formas de envolvimento. Capazes de roubar aquelas palavras irresistíveis da boca da pequena Alice de Carrol: “Curiouser and curiouser!”.